O instrumento processual
adequado para que o proprietário retome a posse direta de imóvel alugado é a
ação de despejo, nos termos do artigo
5º da Lei 8.245/1991 (Lei de Locação), não servindo para esse objetivo
o ajuizamento de ação possessória.
O entendimento foi reafirmado
pela Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) ao reformar acórdão do
Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), segundo o qual a ação possessória
seria cabível para que os possuidores indiretos – no caso, os herdeiros do
proprietário falecido – reivindicassem a retomada do imóvel locado.
De acordo com os autos, após a
morte de seu pai, um dos herdeiros avisou à locatária que não tinha mais
interesse no aluguel, e solicitou a desocupação. Entretanto, a locatária se
recusou a sair do imóvel, alegando que o teria comprado do proprietário
anterior.
Ao confirmar a sentença que
determinou a reintegração de posse, o TJSP considerou que, tendo sido
demonstrada a relação locatícia no imóvel transmitido aos herdeiros no momento
da morte do pai (princípio da saisine), estava comprovada a posse
indireta do autor da ação sobre o imóvel.
Apesar de considerar que, no
caso, o procedimento adequado seria o da ação de despejo, o TJSP seguiu o
princípio mihi factum, dabo tibi ius ("dá-me os fatos que
lhe darei o direito"), concluindo que o juiz de primeiro grau agiu
corretamente ao analisar o pedido de reintegração de posse.
Ações possessórias e de
despejo têm natureza e fundamentos distintos
Relator do recurso da locatária
no STJ, o ministro Antonio Carlos Ferreira comentou que o Código de Processo Civil, em seu artigo 554, prevê a
fungibilidade (ou seja, a possibilidade de se aceitar um meio processual
juridicamente inadequado) para os diferentes tipos de ação possessória: a
reintegração de posse (no caso de esbulho), a manutenção de posse (na hipótese
de turbação) e o interdito proibitório (em razão de ameaça à posse).
Por outro lado, observou, a ação
de despejo prevê uma relação locatícia subjacente, da qual derivam os direitos
e os deveres do locador e do locatário – sendo possível comprovar, a partir
dessa relação, uma situação de posse indevida.
"Embora o pedido da
reintegração de posse e da ação de despejo seja a posse legítima do bem imóvel,
trata-se de pretensões judiciais com natureza e fundamento jurídico distintos,
pois, enquanto a primeira baseia-se na situação fática possessória da coisa, a
segunda se fundamenta em prévia relação contratual locatícia, regida por norma
especial, o que, consequentemente, impossibilita sua fungibilidade",
completou.
Desocupação para uso próprio
tem procedimentos específicos na Lei de Locação
No caso analisado, segundo o
relator, o término do contrato de locação ocorreu em razão da necessidade de
retomada do imóvel para moradia, contexto em que a Lei 8.245/1991 prevê
procedimentos específicos para a desocupação, bem como sanções – até criminais
– se o proprietário não utilizar o bem com a finalidade alegada.
"Ao se permitir o
ajuizamento de ação possessória em substituição da ação de despejo, nega-se
vigência ao conjunto de regras especiais da Lei de Locação, tais como prazos,
penalidades e garantias processuais", concluiu o ministro ao dar provimento ao recurso
especial e julgar improcedente a ação de reintegração de posse.
Esta notícia refere-se
ao(s) processo(s):REsp 1812987
Comentários
Postar um comentário